segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

CARNIVAL OF LIGHT - A MAIS ESTRANHA DE TODAS AS MÚSICAS DOS BEATLES


Carnival of Light - "Festival de Luzes" - é uma música experimental nunca lançada pelos Beatles. Foi gravada em 5 de janeiro de 1967, depois da sessão de overdubbing vocal para 'Penny Lane', numa sessão que durou cinco horas. A faixa foi criada para o The Million Volt Light and Sound Rave, um evento realizado no Roundhouse Theatre entre 28 de janeiro e 4 de fevereiro de 1967. Algumas pessoas afirmam que a música tinha por volta de treze minutos, e Paul McCartney disse que tinha por volta de quinze. Em The Complete Beatles Chronicle está listada com duração de 13 minutos e 48 segundos, mas nos vídeos disponíveis tem mais de 14. A gênese da música veio em dezembro de 1966 com o designer David Vaughan (parte do trio de designers Binder, Edwards & Vaughan), que tinha recentemente pintado um piano de Paul McCartney com desenhos psicodélicos. Por volta do mesmo período em que ele entregou o piano no endereço de McCartney, Cavendish Avenue, perguntou se Paul poderia contribuir com uma peça musical para a estreia de The Million Volt Light and Sound Rave. Para sua surpresa, McCartney concordou em fazer uma contribuição. The Million Volt Light and Sound Rave (às vezes citado como The Carnival of Light Rave) era um festival de arte organizado por Binder, Edwards & Vaughan para a exposição de música eletrônica e apresentações de luzes. Foi feito na Chalk Farm Road Roundhouse Theatre e caracterizava-se não só por um projeto onde se tocava 'Carnival of Light', mas também performances por Unit Delta Plus, cujos membros incluíam pioneiros da música eletrônica Delia Derbyshire, Brian Hodgson da BBC Radiophonic Workshop, e o artista eletrônico Peter ZinovieffO expert e estudioso da obra dos Beatles Mark Lewisohn, que ouviu a música em 1987 quando fazia seu livro The Complete Beatles Recording Sessions, diz que a música incluía "bateria hipnótica, distorcida, sons de órgão, uma guitarra solo distorcida, o som de um órgão de igreja, vários efeitos (gargarejo com água seria um) e, talvez o mais intimidante de todos, John Lennon e Paul McCartney berrando como dementes e gritando frases aleatórias como 'Are you alright?' (Você está bem?) e Barcelona!". Barry Miles, o biógrafo oficial de McCartney, escreveu em “Paul McCartney: Many Years from Now” que a canção "não tinha ritmo, apesar de uma batida se estabelecer por alguns compassos pela percussão ou pelo piano que fazia a batida rítmica. Não há melodia, apesar de fragmentos de uma melodia ameaçarem a aparecer". Eu disse aos outros: 'tudo que eu quero que vocês façam é apenas percorrer todos os instrumentos, bater, gritar, tocar, não precisa ter sentido nenhum. Toquem um tambor, depois façam algo no piano, toquem algumas notas e vagueiem por aí”, contou, Paul. A trilha básica de um órgão tocando notas de baixo e de uma bateria foram gravados em velocidade lenta, dando-os um som mais profundo. Há também uma grande quantidade de reverbs (reverberação) nos instrumentos e nos vocais de John e Paul (as duas únicas vozes na música); John e Paul também gravaram gritos de guerra de Nativos Americanos, assobios, suspiros, tosses verdadeiras e fragmentos de conversas de estúdio. Outros overdubs da música incluem rajadas do retorno da guitarra, um órgão sentimental daqueles de cinema, pedaços de ruídos de piano e um retorno eletrônico com Lennon gritando 'Electricity!' (Eletricidade!). A faixa é concluída com Paul pedindo ao engenheiro de som em uma voz ecoada "Can we hear it back now?" (Podemos ouví-la agora?). Além disso, segundo Miles, musicalmente, a faixa "lembra 'The Return of the Son of Monster Magnet' do álbum Freak Out! de Frank Zappa, exceto que não há ritmo e a música… é mais fragmentada, abstrata e séria".
Dudley Edwards (um dos organizadores do The Million Volt Light and Sound Rave e amigo de McCartney) disse que uma tomada de 'Fixing a Hole' (do Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band) com um piano aparece durante a canção. É improvável que esta tomada tenha sido ouvida, já que a gravação de 'Fixing a Hole' só começou cinco dias depois da última apresentação de The Million Volt Light and Sound Rave, mas não é impossível que McCartney tenha tocado alguns compassos da música nesta faixa. Apesar do livro de Lewisohn dizer que uma mixagem em mono foi dada para Vaughan, Miles alega que a mixagem "foi feita com completa separação estereofônica, e é um exercício em camadas e texturas musicais". Ou uma segunda mixagem foi feita depois do evento ou na verdade foi dado a Vaughan uma mixagem estéreo que não tinha relação às gravações de Abbey Road. Edwards disse que a fita foi levada à América por Ray Anderson (que foi trazido dos EUA para auxiliar com o show de luzes do evento). As fitas da sessão de Carnival of Light continuam nos Estúdios Abbey Road.
"Carnival of Light" ainda não apareceu em nenhum lançamento oficial dos Beatles, apenas em bootlegs. Em 1996, McCartney tentou lançar a faixa no álbum Anthology 2, mas George Harrison a rejeitou. De acordo com McCartney, a razão para tal foi de que "ele não gostava de música de vanguarda (avant-garde)". Apesar disso, George Harrison criou músicas vanguardistas como compositor-solo (em 1969 ele lançou um álbum experimental chamado Electronic Sound usando o então novo Sintetizador Moog) e em vários trabalhos com os Beatles. Em agosto de 1996, Paul disse que estava trabalhando num filme de foto-colagem dos Beatles, similar ao filme feito sobre o Grateful Dead em 1995 chamado Grateful Dead - A Photo Film. Ele estava planejando usar 'Carnival of Light' na trilha sonora, mas isso nunca aconteceu. Em novembro de 2008, Paul confirmou que ainda possui as fitas da gravação, e “suspeitava” que era a hora do mundo conhecê-la. "Eu gosto dela porque são os Beatles livres, saindo da linha" Paul ainda precisa do consentimento da viúva de Lennon, Yoko Ono, e da viúva de Harrison, Olivia Trinidad, para lançar a música, além do de Ringo Starr. No entanto, Paul divulgou uma nota no final de dezembro afirmando que ele planejava lançar a música em 5 de Janeiro de 2009, já que ele finalmente recebeu permissão para lançá-la. A data escolhida, segundo ele, foi em comemoração aos 42 anos de gravação da música (5 de Janeiro de 1967). Mas isso também não aconteceu.
Pensando nessas enfadonhas e intermináveis "jams" dessa época, lembrei dessa passagem do excelente livro de Geoff Emmerick - "Minha Vida Gravando os Beatles"não sobre "Carnival of Light" especificamente, mas bem que poderia ser.

Talvez por causa do consumo de drogas, os Beatles começaram a ficar um pouco complacentes e preguiçosos por volta dessa época, e a concentra­ção deles estava diminuindo também. Na verdade, ela nunca tinha sido mes­mo tão boa, especialmente quando eles estavam fazendo as bases. Eles iam até a metade e, em seguida, um deles esquecia o que devia fazer e é por isso que às vezes eram necessários dezenas de takes antes que conseguíssemos algo utilizável. O culpado em geral era John. Sua mente simplesmente vagueava, ou então, ele e Paul tinham um ataque de riso - na maioria das vezes em determinado momento da noite, depois de terem fumado maconha. Na noite seguinte, eu estava de volta à Abbey Road, mixando a música-tema de Magical Mystery tour. Malcolm tinha feito um trabalho louvável gra­vando os metais com a fita em uma velocidade reduzida para que soassem da melhor forma possível quando a fita fosse reproduzida na velocidade normal, mas mais uma vez os quatro Beatles — Harrison, principalmente — reclamaram muito sobre o falatório interminável de Malcolm. Richard descreveu a sessão como tendo sido um pouco estressante do princípio ao fim, com George Martin particularmente em seu limite. 
Foi nessa época que os sinais de alerta começaram a aparecer. Certa vez, os Beatles apareceram no estúdio excepcionalmente tarde - perto da meia-noite - e passaram cerca de sete horas em uma “viagem”, chapados, tocando sem parar... e sem chegar a lugar nenhum. Em busca de um novo tipo de “onda”, Lennon havia trazido uma grande luz estroboscópica, então em certo ponto eles apagaram as outras luzes e começaram a correr pelo estúdio, como se estivessem em um filme antigo. Isso durou cerca de cinco minutos, depois todos começaram a reclamar de dor de cabeça. Todos os quatro estavam completamente fora de si, viajando de ácido provavelmente, e essa foi a primeira sessão dos Beatles em que eu estava presente em que absolutamente nada foi realizado. Talvez as primeiras sementes do que viria a ser a faixa ins­trumental “Flying” tenham sido plantadas naquela noite, mas em grande par­te eles estavam apenas agindo como bobos, para grande aborrecimento de George Martin, que vinha constantemente filar meus cigarros, um sinal claro de sua frustração. Ele tentou chamar a atenção de John, Paul e George para o fato de que suas guitarras não estavam nem mesmo afinadas, mas, rindo como crianças, eles não se importaram com ele, dizendo: “Tudo bem, estamos ape­nas fazendo uma demo”. 
Aquilo em si já era uma coisa estranha de dizer, uma vez que todos sabí­amos muito bem que qualquer coisa que os Beatles gravavam podia se tornar parte de um produto acabado, e essa era a razão de nós constantemente gra­varmos e raramente apagarmos algo. Mas eles estavam tão chapados naquela noite que não podíamos nos comunicar com eles de forma nenhuma. Richard Lush e eu já havíamos compreendido àquela altura que fazer jams era agora o processo pelo qual eles se inspiravam e criavam novas músicas, mas George Martin, que não estava acostumado a trabalhar dessa maneira, simplesmente não entendeu aquilo. Sete horas de uma jam sem rumo, com guitarras desafi­nadas, não era a maneira como ele fazia uma sessão, mas eles estavam claramen­te no controle agora — faziam como queriam. Para piorar as coisas, George não podia ir até lá e brigar com eles, porque ele tinha medo de ser demitido. Os Beatles eram clientes independentes dele, então tinha de ir com cuidado; cer­tamente eles eram uma banda que ele não queria perder. 
Quando a meia-noite se tornou uma da manhã, um descontente George Martin virou-se para mim na sala de controle e disse: “O que estou fazendo aqui, afinal?”. 
Eu não sabia o que responder. George entendeu que ele não tinha ne­nhuma função em uma sessão como aquela — realmente, ele estava lá apenas para proteger o interesse do seu estúdio AIR. Assim sendo, ele simplesmente se levantou e saiu, sem sequer se preocupar em pegar o interfone e dizer boa-noite para os quatro Beatles, que continuaram tocando, alheios, lá embaixo, na escuridão do Studio Two. 
Talvez por causa do consumo de drogas, os Beatles começaram a ficar um pouco complacentes e preguiçosos por volta dessa época, e a concentra­ção deles estava diminuindo também. Na verdade, ela nunca tinha sido mes­mo tão boa, especialmente quando eles estavam fazendo as bases. Eles iam até a metade e, em seguida, um deles esquecia o que devia fazer e é por isso que às vezes eram necessários dezenas de takes antes que conseguíssemos algo utilizável. O culpado em geral era John. Sua mente simplesmente vagueava, ou então, ele e Paul tinham um ataque de riso - na maioria das vezes em determinado momento da noite, depois de terem fumado maconha. 
Na noite seguinte, eu estava de volta à Abbey Road, mixando a música-tema de Magical Mystery tour. Malcolm tinha feito um trabalho louvável gra­vando os metais com a fita em uma velocidade reduzida para que soassem da melhor forma possível quando a fita fosse reproduzida na velocidade normal, mas mais uma vez os quatro Beatles — Harrison, principalmente — reclamaram muito sobre o falatório interminável de Malcolm. Richard descreveu a sessão como tendo sido um pouco estressante do princípio ao fim, com George Martin particularmente em seu limite. 
Foi nessa época que os sinais de alerta começaram a aparecer. Certa vez, os Beatles apareceram no estúdio excepcionalmente tarde - perto da meia-noite - e passaram cerca de sete horas em uma “viagem”, chapados, tocando sem parar... e sem chegar a lugar nenhum. Em busca de um novo tipo de “onda”, Lennon havia trazido uma grande luz estroboscópica, então em certo ponto eles apagaram as outras luzes e começaram a correr pelo estúdio, como se estivessem em um filme antigo. Isso durou cerca de cinco minutos, depois todos começaram a reclamar de dor de cabeça. Todos os quatro estavam completamente fora de si, viajando de ácido provavelmente, e essa foi a primeira sessão dos Beatles em que eu estava presente em que absolutamente nada foi realizado. Talvez as primeiras sementes do que viria a ser a faixa ins­trumental “Flying” tenham sido plantadas naquela noite, mas em grande par­te eles estavam apenas agindo como bobos, para grande aborrecimento de George Martin, que vinha constantemente filar meus cigarros, um sinal claro de sua frustração. Ele tentou chamar a atenção de John, Paul e George para o fato de que suas guitarras não estavam nem mesmo afinadas, mas, rindo como crianças, eles não se importaram com ele, dizendo: “Tudo bem, estamos ape­nas fazendo uma demo”. 
Aquilo em si já era uma coisa estranha de dizer, uma vez que todos sabí­amos muito bem que qualquer coisa que os Beatles gravavam podia se tornar parte de um produto acabado, e essa era a razão de nós constantemente gra­varmos e raramente apagarmos algo. Mas eles estavam tão chapados naquela noite que não podíamos nos comunicar com eles de forma nenhuma. Richard Lush e eu já havíamos compreendido àquela altura que fazer jams era agora o processo pelo qual eles se inspiravam e criavam novas músicas, mas George Martin, que não estava acostumado a trabalhar dessa maneira, simplesmente não entendeu aquilo. Sete horas de uma jam sem rumo, com guitarras desafi­nadas, não era a maneira como ele fazia uma sessão, mas eles estavam claramen­te no controle agora — faziam como queriam. Para piorar as coisas, George não podia ir até lá e brigar com eles, porque ele tinha medo de ser demitido. Os Beatles eram clientes independentes dele, então tinha de ir com cuidado; cer­tamente eles eram uma banda que ele não queria perder. 
Quando a meia-noite se tornou uma da manhã, um descontente George Martin virou-se para mim na sala de controle e disse: “O que estou fazendo aqui, afinal?”. 
Eu não sabia o que responder. George entendeu que ele não tinha ne­nhuma função em uma sessão como aquela — realmente, ele estava lá apenas para proteger o interesse do seu estúdio AIR. Assim sendo, ele simplesmente se levantou e saiu, sem sequer se preocupar em pegar o interfone e dizer boa-noite para os quatro Beatles, que continuaram tocando, alheios, lá embaixo, na escuridão do Studio Two.

2 comentários:

Willian Wallace disse...

Ok, tudo muito bom, postagem redondinha, texto bacana...mas Edu, onde está a música???

Valdir Junior disse...

Eu achei a uns anos atras umas gravações que diziam ser essa musica(!!??). Na boa, se a musica for igual ou parecida com que eu ouvi, seria interessante ter a gravação só para ser completista.